A modalidade de compra e venda em pregão é a maneira mais eficiente, objetiva e democrática de se comercializar a produção agropecuária
12/11/2024 - 13:45
Como toda atividade sócio-econômica, o Leilão Rural também passa por transformações. Muito se tem discutido sobre o protagonismo do pregão frente às novas ferramentas de compra e venda que usam a IA (Inteligência Artificial), especialmente via tecnologia "blockchain", cujas análises do perfil do cliente, através de dados extraídos de seus hábitos de consumo, estão cada vez mais sofisticadas e precisas, sendo fundamentais para as ofertas futuras.
No best-seller Ponto de Inflexão (Büzz Editora /2019), o empresário bilionário Flávio Augusto da Silva ressalta que nos negócios nada é perene. “A Kodak era líder global no mercado de fotografia e a Blockbuster era a maior locadora de filmes do mundo. Logo, estabilidade não existe”. Concordo com essa linha de raciocínio. E também acredito que, independentemente dos avanços tecnológicos e das novidades mercadológicas, duas características sempre serão valorizadas no profissional: credibilidade e criatividade. É assim que pauto o meu trabalho, visando a valorizar o Leilão Rural, uma vez que tal modalidade de compra e venda de animais, bens e implementos agrícolas é a melhor ferramenta de comercialização da produção agropecuária em escala. Eu acredito na força do campo!
Os valores ético-morais são os pilares da profissão de leiloeiro rural. O profissional que goza de credibilidade, através de atitudes idôneas, e atua de maneira sinérgica com as novidades digitais, impostas pelo atual dinamismo dos Negócios, tem liberdade para desempenhar com assertividade e lisura o seu papel. Para o sucesso no leilão é preciso cuidar de todos os elos. Penso que as novas tecnologias, como os algoritmos, devam ser usadas para otimizar os custos dos remates. A “ferramenta leilão” continua sendo a maneira mais eficiente, prática, objetiva e democrática de se comprar e vender. Por isso, a minha estratégia visa a melhorar a eficiência, a eficácia e a efetividade, buscando os melhores resultados, unindo ambas as pontas, compradores e vendedores, de forma sinérgica.
Não caia em armadilha
Segundo a Lei 4.021/61, o Leilão Rural tem como obrigatoriedade a presença do leiloeiro, este devidamente credenciado pela Federação da Agricultura do Estado onde reside. Hoje em dia, alguns sites, grupos de Whatsapp e novos aplicativos promovem remates de maneira ilegal, pois os fazem sem a figura do profissional. O leiloeiro, filiado à entidade representativa da classe, é o único que regula e confere legitimidade ao leilão, agregando conhecimento e capacidade técnica para transmitir informações precisas e confiáveis, além de validar os usuais pré-lances e legitimar as vendas, haja vista que a Lei lhe confere "Fé Pública". Todas as formas de leilão, incluindo as modernas, demandam a presença do leiloeiro, nem que seja de maneira virtual e/ou on-line.
Um pouco de história (e estórias)
Em matéria também publicada em Agro MP*, o decano dos leiloeiros rurais em atividade no Brasil, Djalma Barbosa de Lima, discorreu sobre as transformações do setor: “O leilão moderno passou por três fases: a primeira, no início, quando Sérgio Piza, Paulo Pimentel e João Sampaio, fundadores da Programa Leilões, em 1975, contrataram os leiloeiros gaúchos Trajano Silva e Pinheiro Machado. Rapidamente também nos trouxeram para o ofício - eu e o Odemar Costa, que oriundos do Rádio, de forma natural, acabamos mudando a cadência da narrativa, caindo no agrado dos novos usuários paulistas. Em seguida, vieram os leilões-shows, ou seja, com as vendas nos principais hotéis e nas grandes casas de espetáculos dos centros urbanos. Nesta época, já nos idos dos anos 90, chegamos a realizar leilões milionários, como os de Orpheu José da Costa, Nagib Audi e Afonso Archilla Galan, dentre tantos outros notáveis, com vultosas movimentações financeiras balizadas pelo dólar. Posteriormente, vieram os pregões pela TV. Com o advento dos canais de televisão especializados no Agronegócio, a solução em comodidade imperou, eliminando os custos estruturais, com buffet, montagem, deslocamento dos animais… Os primeiros, chamados virtuais, apresentaram lotes de baixa qualidade, algo que rapidamente foi corrigido, passando a vender o que os criadores tinham de melhor, tendo como diferencial a maior visibilidade, o encurtamento das distâncias, permitindo a um vendedor do Paraná comercializar, em fração de minutos, o seu produto a um investidor lá de Rondônia. Tudo isso antes da internet”. *Vide texto na íntegra: https://agromp.com.br/post/e-dou-lhe-tres.
Marcelo Pardini é narrador, poeta, jornalista, pós-graduado em Marketing e leiloeiro rural. Titular da marca Agro MP - A voz do Agronegócio