Gosto de pensar assim: quando nasci, não tinha problema. Aí eu respirei e, pronto, gerei um para resolver. Se eu gerei, ele veio depois de mim. Se veio depois de mim, é menor do que eu. Se é menor, tenho o comando. Se tenho o comando, não vacilo, administro a situação

Geraldo Rufino

A gratidão é o único tesouro dos humildes

William Shakespeare


Meu Pet

Meu pet está partindo... e agora?

Aceitar a morte faz parte da passagem terrena, por isso precisamos lidar com esta situação de uma forma menos dolorosa

15/09/2021 - 15:48 | Atualizado em 31/01/2023 - 17:20

Logo que compramos ou adotamos um pet e o recebemos em casa, percebemos o quanto esse ser é capaz de nos trazer alegria, renovando a energia do nosso lar. Os animais chegam para nos fazer felizes, no entanto, não nos preparamos para o momento da despedida. E o tema da coluna é justamente sobre o falecimento.

Nossos companheiros envelhecem numa velocidade mais rápida do que nós. Naturalmente, enfrentarão a senilidade ao nosso lado. É nossa responsabilidade proporcionar a eles conforto e carinho nesse período. A partir do momento em que os veterinários nos informam que o fim do nosso estimado pet está próximo, acredito na influência de nossos pensamentos sobre eles. Assim, recomendo atitude positiva e realista em relação ao tratamento.

Animais com câncer terminal, doenças degenerativas ou que enfrentam enfermidade com risco de morte, devem receber tratamento diferenciado, não somente em relação à Medicina Veterinária convencional, mas também com apoio psicológico, que proporcione bem-estar a eles, para que façam a passagem em paz. 

O uso de medicamentos como opióides, anti-inflamatórios, analgésicos, florais etc são recomendados pelos profissionais, entretanto, o aconselhamento psicológico e as mudanças no ambiente para confortar o animal muitas vezes ficam esquecidos. Facilitação do acesso aos comedouros e bebedouros, aquecimento ou resfriamento do ambiente, higienização, mudanças de decúbito, cadeirinhas de roda e outros acessórios para proporcionar mobilidade, adequação do piso, entre outros, também fazem parte dos cuidados paliativos necessários para o tratamento do ser terminal. O mais importante é termos a consciência de que sempre há algo a ser feito. A doença pode não ter cura, mas sempre existe alguma forma de aliviar o sofrimento e proporcionar dignidade ao animal.

O termo ortotanásia significa “morte correta”, ou seja, falecimento natural, em que o paciente já está em processo de morte e recebe a ação do médico veterinário para que este estado siga seu curso normal. Desta forma, diante de dores intensas sofridas pelo paciente terminal, consideradas como intoleráveis, o profissional deve agir para amenizá-las. Quando se prolonga artificialmente o processo de morte, o termo é distanásia. Já o termo eutanásia, mais utilizado em Medicina Veterinária, é o ato de proporcionar morte sem sofrimento ao doente atingido por afecção incurável que lhe causa dores intoleráveis. Nós, veterinários, passamos muitas vezes por situações nas quais temos que decidir sobre fazer ou não, indicar ou não, negar ou não.

O Conselho Federal de Medicina Veterinária disponibiliza o Guia Brasileiro de boas práticas para eutanásia de animais, material que visa a proporcionar uma morte digna e humanitária, seguindo orientações para um procedimento sem dor e realizado dentro de um determinado contexto. A eutanásia de animais pode ser recomendada quando o bem-estar estiver comprometido de forma irreversível, sendo um meio de eliminar o sofrimento.

A questão demanda bom senso e cada situação deve ser interpretada e analisada para que essa difícil decisão possa ser tomada de forma consciente e respeitosa, levando em consideração que os animais são indivíduos que lutam por sua sobrevivência e são sencientes, ou seja, sentem e sofrem de forma similar aos seres humanos. 

Há que se levar em consideração a condição de saúde mental e orgânica do animal, bem como o ambiente onde vive. As crenças de veterinários e tutores têm peso na decisão. Como a morte é algo certo, temos que torná-la mais digna. Nossos animais queridos precisam do nosso apoio. Não os abandonemos nem os deixemos tristes e apreensivos. Proporcionemos paz, carinho e serenidade a eles nesse momento difícil.


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Janaina Biotto contato@vilachicopethotel.com.br

A médica veterinária Janaina Biotto é especialista em Anestesia, Oncologia, Ozonioterapia e Acupuntura. Atende no Vila Chico Pet Hotel, em Botucatu/SP

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