O ideal é que se evite a lambedura de cães e gatos, principalmente nas áreas onde haja ferida na pele, bem como boca, olhos e mucosas
13/05/2021 - 09:18 | Atualizado em 10/09/2021 - 09:00
Continua em alta a seguinte pergunta: as lambidas dos animais de estimação oferecem riscos? Desmistificando, bem como deixando os exageros e o sensacionalismo de lado, gostaria de colocar o meu ponto de vista para vocês, que se preocupam com a saúde e ao mesmo tempo não abrem mão de conviver com os bichanos:
Não é comum ocorrerem doenças provocadas por lambidas de cães, entretanto, deve-se levar em consideração que a boca deles possui flora bacteriana diferente da nossa, composta por ampla variedade de microrganismos, principalmente por bactérias, sendo as mais comuns Streptococcus e Actinomyces. “A boca dos cães possui flora bacteriana potencialmente patogênica para os seres humanos, podendo causar diversas doenças se vencida a barreira de proteção da pele”, afirma o médico infectologista Alexandre Naime Barbosa, professor na Universidade Estadual Paulista (Unesp/Botucatu). Mas raramente uma lambedura em pele intacta causa problema. O estado da boca do cão ou do gato também influencia nessa questão, pois alguns pets apresentam o que chamamos de doença periodontal, que implica em inflamação ou infecção das gengivas, dentes e boca em geral, tornando a mordida mais perigosa. Mais de 05 bactérias podem ser inoculadas em uma única mordida perfurante, sendo as do gênero Pasteurella àquelas que mais causam infecção em seres humanos mordidos - responsáveis ou corresponsáveis por mais de 50% dessas infecções.
Sabemos que as mordidas de cachorro podem transmitir raiva, contudo, as infecções bacterianas são a principal consequência de quadros de osteomielite; artrite séptica; infecção de pele, músculos e subcutânea, bem como possível choque séptico, além de destruição mecânica da área mordida pela laceração provocada pelos caninos. Mordidas de cães e gatos podem inocular o Clostridium tetani, presente na flora oral e responsável pelo desenvolvimento de tétano, então, se a pessoa ferida tomou a vacina há mais de 10 anos, ela deverá ser revacinada. Toda pessoa mordida deve ser encaminhada para o posto de saúde ou pronto socorro mais próximo para que o médico responsável avalie e tome as condutas mais adequadas para cada caso.
O ideal é que se evite a lambedura de cães e gatos, principalmente nas áreas onde a pele esteja ferida, bem como boca, olhos e outras mucosas, pois são os locais onde existem maiores chances de inoculação de bactérias que podem ser patogênicas. Lambidas em pele íntegra dificilmente são capazes de causar doenças, desde que o cão ou o gato esteja saudável, limpo, vacinado e vermifugado.
Vale lembrar que os pets costumam lamber o chão e naturalmente higienizam pelos e partes íntimas com a língua, então, devemos evitar que eles nos lambam na face pela proximidade da boca e dos olhos, pois algumas doenças podem ser transmitidas pelas fezes, como verminoses e protozoários gastroentéricos, tal qual a Giardia.
Devemos ressaltar que o estado imunológico da pessoa influencia na susceptibilidade às infecções. Pessoas com doenças imunodepressoras ou que utilizam medicamentos que comprometam a imunidade (quimioterapia, por exemplo), neonatos e idosos apresentam maiores chances de desenvolverem infecções. Todavia, os benefícios psicológicos que os animais de companhia trazem ao homem são imensos. O adoecimento muitas vezes segrega pessoas de seus amigos e familiares, enquanto os animais de estimação promovem amizade e companhia permanente. Assim, podemos concluir que perder seus “companheiros” é muito mais deletério para o bem-estar desses pacientes do que o risco de adquirir uma infecção com potencial zoonótico.
Toxoplasmose, giardíase, campilobacteriose e doenças fúngicas são as mais comuns, entretanto, alguns cuidados simples como lavar as mãos após trocar a caixinha de areia do gato ou recolher as fezes dos cães, além de manter a pelagem dos pets sempre limpa e saudável evitam a transmissão direta. Grávidas também não precisam se livrar de seus queridos cães ou gatos, contanto que sigam tais medidas de higiene.
O convívio com os animais de estimação pode ser estreito desde que os pets sejam levados ao médico veterinário com frequência, a fim de que o profissional oriente o proprietário sobre vermifugação esporádica, vacinação anual, cuidados com higiene e tratamento de doenças com potencial zoonótico. Desta forma, é permitida e benéfica a convivência com eles dentro de casa de uma maneira salutar, próxima e segura para adultos e crianças.
A médica veterinária Janaina Biotto é especialista em Anestesia, Oncologia, Ozonioterapia e Acupuntura. Atende no Vila Chico Pet Hotel, em Botucatu/SP