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Marcelo Pardini

Se hoje não estamos felizes com os nossos resultados, temos que rever as atitudes, reprogramar os pensamentos, mudar as crenças, afinal, as escolhas definem os caminhos

Marcelo Pardini


Veterinária

Cólica, o inimigo Nº 1 dos equinos - Parte II

Informe-se sobre um dos maiores incômodos da vida do equino e saiba como o tratamento precoce tem comprovada eficácia

01/06/2023 - 14:08 | Atualizado em 12/06/2023 - 08:44

Os equinos ingerem alimentos das formas mais variadas. A apreensão é feita pelos dentes incisivos e pela língua. A água é bebida por sucção e a trituração se dá pelos dentes pré-molares e molares, que umedecem a comida pela saliva, tornando-a passível de ser deglutida. Um animal de aproximadamente 400 quilos secreta diariamente até 40 litros de saliva. Tenha mais informações sobre a cólica, o tormento dos cavalos, sob a orientação técnica do Dr. Hélio Itapema, em matéria original do Portal InfoHorse, veículo de imprensa do jornalista e leiloeiro rural Marcelo Pardini, que esteve no ar até dezembro de 2018. O conteúdo é republicado na íntegra em Agro MP. Leia:

O suco gástrico é composto por água, substâncias orgânicas, ácido clorídrico livre e sais minerais, e é produzido o dia todo. Em 24 horas, o cavalo pode secretar cerca de 10 a 30 litros deste. O estômago do equino nunca se esvazia completamente, no entanto, em torno de 24 horas após a ingestão do alimento, ele deve estar quase vazio. Após o ingresso do quimo no duodeno ocorrem alguns eventos, dentre eles, a vasodilatação mesentérica, que se estende por 04 a 06 horas, com pico entre 30 e 90 minutos. Neste período, o animal não deve ser submetido a exercícios, pois o sangue desvia para os músculos, prejudicando a digestão. Para a manutenção das ondas peristálticas há a necessidade de valores mínimos de K+, além do equilíbrio de Na+ e Ca++. Isso pode explicar a inibição da motilidade normal quando o animal se encontra desidratado ou com desequilíbrio eletrolítico.

Alguns fatores inviabilizam o exame clínico, como o tamanho do cavalo e o baixo limiar de dor. Normalmente, o animal com cólica é mais sensível aos efeitos das endotoxinas, tendo como fator predisponente a laminite, e é sensível às perdas eletrolíticas. A auscultação intestinal é muito importante para que se possa avaliar a motilidade do intestino do paciente. “A palpação retal também é de suma importância e deve ser realizada por profissional experiente para diferenciação de quadro clínico ou cirúrgico na síndrome cólica. Temos que ter o devido cuidado para não romper o reto do animal com tal procedimento”, diz Hélio Itapema, titular da Clínica de Equinos Itapema.

Beto Negrão
Em 24 horas, o cavalo pode secretar cerca de 10 a 30 litros de suco gástrico

Cólica renal: um ponto interessante a ser observado é que 90% dos “práticos” assumem a conduta de usar medicamentos diuréticos para “curar” a cólica equina. “Em primeiro lugar, a cólica renal não é muito comum nos cavalos. Em segundo lugar, o uso de drogas diuréticas desidratará ainda mais o animal acometido, portanto, é totalmente contraindicado o uso dessas drogas em cavalos com cólica sem que os mesmos tenham sido minuciosamente avaliados pelo médico veterinário que irá tratá-los”, diz Dr. Hélio Itapema.

Sondagem nasogástrica: é o procedimento de maior importância no diagnóstico e no tratamento da cólica equina. Deve ser realizada toda vez que for diagnosticado o quadro. O profissional deve tomar alguns cuidados para não agravar ainda mais a situação, como aumentar o conteúdo no estômago ou causar pneumonia aspirativa por jogar líquido no pulmão do cavalo. O clínico deve ter material adequado e de boa qualidade para evitar lesões no esôfago ou sangramento nas narinas (epistaxe).

Paracentese abdominal: a coleta do líquido peritoneal é um procedimento de grande importância quando se necessita de mais de um prognóstico no quadro de cólica. “Ela nos auxilia a demonstrar o grau de sofrimento das alças no momento em que é realizada. Após a coleta, devemos observar a aparência do líquido, que pode estar amarelo translúcido - normal; amarelo com turbidez - proteína ou celularidade; amarelo floculento - presença de fibrina; róseo - hemorragia, e verde 'amarronzado' - presença de conteúdo intestinal”.

Tipos de cólicas
As cólicas podem ser divididas em três formas: processo não obstrutivo, processo obstrutivo não estrangulativo e processo obstrutivo estrangulativo. Cada uma tem as suas variações:
1. Processo não obstrutivo - quadro que não causou obstrução, entre eles, dilatação gástrica - gasosa, por líquidos ou por alimentação excessiva, e espasmo intestinal - na auscultação os sons estão aumentados, em frequência e força.
2. Processo obstrutivo não estrangulativo - obstruem a luz intestinal sem que haja estrangulamento de alças, tais quais, enterite anterior - também conhecida como duodeno jejunite, ocorrendo pela inflamação no duodeno e no jejuno por bactérias como Clostridium SP, e íleus - normalmente ocorrem em animais que foram submetidos à laparotomias devido à manipulação das alças, podendo ocorrer também de forma primária sem etologia explicada. Pode-se notar atonia; impactação - muito comum no intestino delgado pela passagem de alimento mal digerido pelo estômago e no intestino grosso pela alteração no diâmetro da luz intestinal; sablose - a areia que é ingerida pelo animal tende a se acumular no ceco e no cólon maior, o que irrita a mucosa, fazendo com que o caso progrida para a colite; enterólito - formações minerais produzidas na luz intestinal pela aglutinação de matérias minerais, gases e fezes, que se unem formando estruturas pétreas e retenção de mecônio (as primeiras fezes do recém-nascido, que sem aporte suficiente de colostro podem ter dificuldade na saída).
3. Processo obstrutivo estrangulativo - obstrução da luz vascular de um determinado segmento intestinal. Quando os vasos são obstruídos é comum que a luz intestinal também o seja. Podem ocorrer quando há vólvulos, torções e intussuscepções, que geralmente acontecem no intestino delgado devido à fraca fixação (realizada apenas pelo mesentério). No cólon maior há incidência de deslocamentos e encarceramentos.

Profilaxia
Ainda hoje, com toda a evolução da Medicina Veterinária, consideramos a prevenção como melhor forma de controlar a síndrome cólica. Esta pode ser feita com medidas que visam a acabar com os fatores predisponentes:
- Alimentação: dar ao cavalo a quantidade de concentrado ideal, dividido em pelo menos três vezes ao dia, e fornecer quantidade suficiente de verde.
- Exercício: os animais não podem ser mantidos estabulados por muito tempo. A falta de exercício ocasiona estresse, culminando em úlceras e gastrite. O cavalo só deve ser submetido ao exercício após 60 minutos da ingestão de ração.
- Controle parasitário: é importante que haja controle bimestral de parasitas, com acompanhamento veterinário.
- Higiene ambiental e alimentar: devemos tomar especial cuidado com a alimentação dos cavalos, observando todos os aspectos de higiene com os produtos por ele ingeridos.
- Manutenção dentária: vários casos de cólica são causados por problemas de má digestão. Controle semestral da cavidade oral é importante para a saúde do cavalo.

Na Parte I, abordamos a síndrome cólica de maneira bem elucidativa (https://agromp.com.br/post/colica-o-inimigo-no-1-dos-equinos-parte-i). Conteúdo de alta qualidade a galope é na Agro MP - A voz do Agronegócio!