Ao lidar com os equinos, especialmente nas provas hípicas, a criança aprende sobre compreensão, respeito, aceitação e humildade
18/02/2021 - 10:36 | Atualizado em 08/11/2024 - 10:17
Considero-me um privilegiado, pois fui apresentado ao universo equestre desde quando ainda usava fraldas. Mesmo morando em São Paulo, o idílio rural da minha família sempre foi o sítio Outeiro de São Raphael, em Botucatu/SP, onde os meus pais, o nefropediatra, Dr. João Tomás, e a veterinária, Dra. Teresa Maria, fundaram o Haras MRM, em 1989, nome em alusão às iniciais dos filhos - Mariana, Rafael e Marcelo.
Temos fotos e vídeos memoráveis... Doces lembranças! Eu, no colo do meu pai, em cima da minha primeira paixão equestre: um Mangalarga, cujo nome fazia menção à pelagem "Pampa". Meu irmão, após um tombo, com o bracinho engessado, ainda assim conduzindo com alegria o "Vermelho". E a minha irmã, com o seu garboso "Preto". Depois vieram o "Chuvisco", o "General" (este, meu parceiro até o final de sua vida, aos 33 anos de idade), e vários outros amigos de quatro patas. Só mais tarde optamos pela criação das raças Appaloosa e Quarto de Milha, uma vez que eu e meus irmãos passamos a competir em alto nível técnico nas provas equestres, percorrendo o Brasil inteiro, com até 09 cavalos no caminhão, participando das modalidades Baliza, Tambor, Rédeas, Western Pleasure, Laço em Dupla. Fomos Campeões Paulistas, Nacionais e Panamericanos! Uma alegria só!
Tais reminiscências vieram em minha mente, pois na última semana levei a minha filha, Maria Júlia, ao Haras Lagoinha, em Jacareí, cidade do Vale do Paraíba que tão bem me acolheu. Lá, estive em companhia da minha esposa, Louisy; da anfitriã, Marisa Iório, e de sua competente equipe, representada por Sueli Linces, Luis Antonio Haddad e Iolanda Fuentes. Juntaram-se a nós a esposa do Haddad, Fernanda, e seus filhos, Maria Fernanda, Maria Eduarda e Luiz Fernando (meninada alto astral, bem educada e, sobretudo, que ama os animais). A nenê adorou os cavalos, logo se acalmando, após a esperada excitação inicial, defronte à baia da craque Hípica do PEC. Depois, o treinador Haddad puxou a Formosa do PEC, égua de excelente temperamento de sela. Coloquei a menininha alguns minutos em cima dela, a pelo mesmo, tempo suficiente para agradecer a Deus por ter o privilégio de apresentar à minha cria, ainda de fraldas, a força, a beleza, a docilidade e o companheirismo do equino. “Os animais foram criados pela mesma mão caridosa de Deus que nos criou. É nosso dever protegê-los e promover o seu bem-estar”, ensinou Madre Teresa de Calcutá, religiosa católica de origem albanesa, naturalizada indiana, um ser de pura luz.
"A compaixão para com os animais é uma das mais nobres virtudes da natureza humana", definiu Charles Darwin, o famoso naturalista britânico. Sempre ressalto que o cavalo é o melhor amigo do homem (mais sincero até mesmo do que o cachorro). Quando não gosta de você, ele murcha a orelha, dá um chega pra lá com a cabeça e até manda o pé. Mas se gosta, aquele ser enorme, de 500 e tantos quilos, torna-se um parceiro fiel, entregando-se totalmente à relação, pronto para ficar ao seu lado sob qualquer condição. Como sei disso? Há centenas de anos o homem aprendeu a se comunicar de diversas formas com os equinos, seja por gestos, sons, sinais... E tal relação só faz evoluir. Engana-se quem pensa que o mercado equestre seja excludente, dominado por abastados. Pelo contrário, a base do setor é preenchida por pequenos empresários e profissionais liberais, cuja maioria é proveniente dos centros urbanos. O motivo do envolvimento? O amor para com os animais! Isso tudo sem falar na Equoterapia, trabalho que tem o cavalo como agente principal no tratamento de distúrbios e doenças do homem.
Em termos de contextualização, a indústria do cavalo cresceu quase 12% ao ano na última década no Brasil. Em 2006, o faturamento foi da ordem de R$ 7,5 bilhões e, em 2016, saltou para R$ 16 bilhões. A Equinocultura já é maior do que diversas indústrias primárias, como Feijão, Trigo, Laranja e Algodão. O setor emprega 600.000 pessoas diretamente e mais de 3.000.000 indiretamente. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), existem 5,5 milhões de equinos no Brasil (quarto maior plantel do mundo), atrás somente de Estados Unidos (9,5 milhões); China (6,8 milhões), e México (6,3 milhões). Trata-se de um segmento que merece mais atenção do poder público...
"Cercado pelos elementos que conspiram para sua ruína e por animais cuja velocidade e força superam as suas, o homem teria sido um escravo sobre a Terra. O cavalo fez dele um Rei", definiu brilhantemente o hipólogo francês Ephrem Houël. O cavalo é tão nobre, que une peão e patrão, sem fazer qualquer distinção. Mais do que falar sobre dados estatísticos e números econômicos, ressalto que o meio equestre é o melhor formador de caráter para as crianças. Nas provas, a meninada lida com pessoas de diferentes credos religiosos e classes sociais: aprende sobre compreensão e respeito. Nos torneios, o jovem lida com derrotas e vitórias, trabalha a aceitação e a humildade. E, sobretudo, reconhece limites, os próprios e os do seu amado companheiro de quatro patas.
Marcelo Pardini é narrador, poeta, jornalista, pós-graduado em Marketing e leiloeiro rural. Titular da marca Agro MP - A voz do Agronegócio